Planejamento financeiro para mães atípicas: um ato de amor
Atualizado: 26 de fev.

Por Silvia Alambert Hala
Quando seguramos nosso filho nos braços pela primeira vez, imaginamos um futuro cheio de descobertas, brincadeiras e conquistas. Mas e quando a vida nos surpreende com desafios que nunca planejamos?
Sou mãe de uma linda menina que nasceu prematura em 1997 e que, até hoje, depende de cuidados especiais. Sei bem o que é passar noites em claro, sentir o coração apertado em cada consulta médica e enfrentar uma montanha-russa emocional e financeira. Porque, sim, criar um filho portador de necessidades especiais envolve custos que vão muito além do que qualquer livro de maternidade nos prepara.
Foi por amor que me tornei mais forte. E foi por necessidade que aprendi que a educação financeira não é apenas sobre dinheiro, mas sobre garantir que nossos filhos tenham tudo o que precisam para crescer com dignidade, conforto e, principalmente, felicidade.
O impacto criar um filho com necesidades especiais sem o devido planejamento financeiro
No livro ‘Los dos hemisférios de Lucca’, Bárbara Anderson relata sua jornada como mãe de uma criança com paralisia cerebral. Seu relato não é apenas sobre amor incondicional, mas também sobre a necessidade de planejamento para garantir terapias, equipamentos e tratamentos que não fazem parte do orçamento da maioria das famílias.
E essa é a grande verdade: ninguém espera precisar de um fundo emergencial para salvar a vida de um filho. Mas, quando essa necessidade surge, não medimos esforços.
Eu mesma já passei por momentos muito difíceis e delicados com a minha filha e a última coisa que importava era o saldo da conta bancária. Quem é “pai e mãe de UTI”, sabe bem sobre o que eu estou falando, mas, a verdade é que uma rede de suporte amorosa e um colchão financeiro confortável sempre nos oferecerá mais tempo para pensar nas alternativas de cirurgias, cuidados especiais e tratamentos, além de mais serenidade para conseguir transmitir amor e tranquilidade aos nossos bebês.
Planejar é garantir tempo e qualidade de vida
A grande armadilha da falta de planejamento financeiro não é apenas a escassez de dinheiro, mas a urgência que ele cria. Sem uma reserva, cada imprevisto se transforma em um desespero, nos deixando sem tempo para refletir e tomar decisões melhores.
Muitas mães atípicas precisam reduzir a carga horária de trabalho ou até abrir mão da carreira para acompanhar os filhos. Outras encontram na maternidade uma nova vocação e reinventam suas trajetórias profissionais. Mas, independentemente do caminho, a estabilidade financeira pode ser o fator que define se essa transição será feita com calma ou às pressas.
E isso não vale apenas para quem já é mãe. Toda mulher que deseja engravidar deveria incluir no seu planejamento não apenas a decoração do quarto do bebê, mas também um fundo de segurança para o inesperado.
Exercício prático: Criando um fundo de amor e segurança
Se você ainda não tem filhos ou está pensando em engravidar, aqui vai um exercício simples para começar a construir seu colchão financeiro para momentos especiais:
Liste os custos básicos de uma gravidez e os primeiros anos do bebê, incluindo consultas médicas, enxoval e licença-maternidade.
Pesquise sobre gastos extras que podem surgir, como um parto de emergência, exames mais complexos ou a necessidade de uma babá especializada.
Simule uma redução de renda, imaginando um cenário em que precise diminuir suas horas de trabalho ou até mudar de carreira.
Defina um valor mensal para sua reserva financeira, algo que caiba no seu orçamento sem comprometer outras necessidades.
Automatize esse investimento, colocando esse dinheiro em um fundo de emergência ou em aplicações seguras que possam ser acessadas rapidamente.
Se você já é mãe e sente que não se preparou para tudo isso, não se culpe. Eu também já me vi perdida no meio de contas e desafios que nunca planejei e, acredite, surpresas e desafios de última hora sempre irão acontecer. Mas o que importa não é o que passou, e sim o que podemos fazer a partir de agora para garantir que nossos filhos tenham o melhor que podemos oferecer dentro de nossas condições financeiras.
Eu nunca vou me esquecer o que me disse o pediatra da UTI neonatal:
“Não há dúvida que o dinheiro ajuda em uma hora dessas, mas o que mantem essas crianças com garra para lutar por viver é o amor e carinho que elas recebem”.
Em momentos em que a última coisa que queremos pensar é o dinheiro, não ter que se preocupar com isso nos tranquiliza e nos abre espaço para oferecer aos nossos bebês não só carinho, mas também segurança, tempo e qualidade de vida.
E isso, mais do que qualquer presente ou brinquedo, é o maior ato de amor que podemos dar a eles.
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Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.
RadiumWeb e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.
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