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ESG: Histórico, Realidade Global e Cenário no Brasil

Por Ricardo São Pedro


Nos últimos anos, o conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) ganhou relevância no mundo dos negócios e dos investimentos. Empresas que adotam práticas de ESG se destacam por sua preocupação com questões ambientais, sociais e de governança, atraindo cada vez mais investidores que buscam não apenas retorno financeiro, mas também impacto positivo no mundo. Neste artigo, vamos explorar a origem do ESG, sua evolução global e a realidade no Brasil.


O que é ESG?


ESG é uma sigla que representa Environmental, Social, and Governance, ou seja, critérios ambientais, sociais e de governança. Esses três pilares ajudam a avaliar se uma empresa adota práticas sustentáveis e responsáveis em suas operações. Aqui está o que cada um desses critérios aborda:

  • Environmental (Ambiental): Refere-se às práticas da empresa que impactam o meio ambiente, como a gestão de resíduos, uso de energia, emissão de gases poluentes e esforços para mitigar as mudanças climáticas.

  • Social (Social): Trata das relações da empresa com seus colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade. Inclui políticas de diversidade, inclusão, direitos humanos, condições de trabalho e impacto social.

  • Governance (Governança): Diz respeito à administração da empresa, suas práticas éticas, transparência, estrutura de conselhos, remuneração de executivos, combate à corrupção e respeito às leis e normas regulatórias.


Histórico do ESG


O conceito de ESG surgiu na década de 2000, embora suas raízes possam ser encontradas em movimentos anteriores de responsabilidade social corporativa e ambiental. O termo ganhou relevância em 2004, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou o relatório Who Cares Wins, que destacou a importância de integrar questões ambientais, sociais e de governança às análises de investimento para melhorar os resultados financeiros de longo prazo.

Outro marco importante foi o lançamento dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) pela ONU em 2006, incentivando investidores a considerar o ESG na tomada de decisões. Desde então, o ESG evoluiu para um dos principais critérios adotados por investidores institucionais ao redor do mundo, com fundos e instituições financeiras incorporando essas práticas em suas estratégias de investimento.


A Realidade do ESG no Mundo


No cenário global, o ESG se tornou uma tendência dominante, especialmente em mercados desenvolvidos. Em 2020, a BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, anunciou que a sustentabilidade seria o novo padrão de investimento, o que reforçou o papel crucial das práticas de ESG no mercado financeiro.


Hoje, trilhões de dólares em ativos são geridos levando em consideração os critérios ESG. Segundo um relatório da Global Sustainable Investment Alliance (GSIA) de 2022, o valor dos investimentos sustentáveis globais superou os 30 trilhões de dólares, representando mais de um terço dos ativos sob gestão total. Esse crescimento foi impulsionado por uma série de fatores, incluindo maior conscientização sobre as mudanças climáticas, demandas sociais por empresas mais éticas e a crescente pressão regulatória sobre governança corporativa.


Além disso, reguladores em diversos países estão intensificando os esforços para que as empresas reportem suas práticas de ESG de forma mais transparente. Na União Europeia, o Green Deal (Pacto Verde Europeu) e a Taxonomia Verde criam padrões rigorosos para atividades econômicas sustentáveis, enquanto os Estados Unidos, sob a administração Biden, têm avançado na regulamentação de práticas sustentáveis e no incentivo ao investimento em energias limpas.


Desafios e Críticas Globais


Apesar do avanço, o ESG enfrenta desafios globais. Uma das principais críticas é o chamado "greenwashing", quando empresas fazem alegações enganosas sobre sua responsabilidade ambiental ou social para melhorar sua imagem sem realmente adotar práticas sustentáveis. Além disso, a falta de padrões globais unificados para mensurar e reportar o desempenho em ESG pode gerar confusão e dificultar comparações entre empresas.


Outro ponto de debate é a rentabilidade dos investimentos ESG. Embora existam muitos casos de sucesso, críticos argumentam que algumas empresas podem sacrificar ganhos de curto prazo para atender às metas de ESG. No entanto, estudos recentes mostram que empresas que adotam práticas ESG sólidas tendem a ter melhor desempenho a longo prazo, especialmente porque gerenciam melhor os riscos associados a crises ambientais e sociais.


O ESG no Brasil


No Brasil, o ESG vem ganhando espaço, mas ainda enfrenta desafios. O movimento ESG se intensificou nos últimos anos, com empresas de grande porte adotando práticas mais transparentes e responsáveis. Grandes corporações brasileiras, como Natura, Itaú e Braskem, têm se destacado por suas iniciativas sustentáveis e compromisso com a responsabilidade social e ambiental.


No entanto, a realidade brasileira apresenta barreiras significativas. O país enfrenta desafios sociais e ambientais complexos, como o desmatamento na Amazônia, a desigualdade social e a corrupção corporativa. Esses fatores pressionam as empresas a adotar práticas mais rígidas de ESG para evitar danos à sua reputação e atração de investidores.


A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) criou índices que avaliam empresas com base em critérios ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que reúne companhias com boas práticas ambientais, sociais e de governança. Esses índices têm o objetivo de estimular as empresas brasileiras a se adaptarem às novas demandas do mercado global.


Além disso, investidores internacionais estão pressionando as empresas brasileiras a adotarem melhores práticas ESG, principalmente com relação ao desmatamento e à proteção ambiental. Em 2020, um grupo de investidores internacionais, com mais de 4 trilhões de dólares sob gestão, alertou o governo brasileiro sobre a necessidade de adotar medidas mais rígidas para combater a destruição da Amazônia.


O Futuro do ESG no Brasil


Com o aumento da conscientização e a pressão por mudanças, o ESG no Brasil está em um momento de crescimento, mas ainda depende de maior apoio regulatório e de uma mudança cultural nas empresas. À medida que mais investidores, tanto nacionais quanto internacionais, exigem transparência e responsabilidade, é provável que as práticas ESG se tornem cada vez mais centrais nas decisões corporativas brasileiras.


O avanço da regulação também pode acelerar a adoção do ESG. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e o Banco Central do Brasil têm se movimentado para introduzir regras que incentivem a sustentabilidade nas empresas e no sistema financeiro. A Agenda BC# do Banco Central inclui pautas voltadas à sustentabilidade, como a inclusão de riscos socioambientais nas avaliações financeiras.


O ESG veio para ficar. Tanto no cenário global quanto no Brasil, o conceito está moldando a maneira como empresas e investidores veem o mercado. Se antes o lucro era o único foco, agora é cada vez mais claro que empresas que cuidam do meio ambiente, das pessoas e que têm uma governança transparente e ética são mais resilientes e atraentes para investidores.


O futuro do ESG depende da sua consolidação como padrão global, da criação de mecanismos que evitem práticas de greenwashing e da implementação de políticas públicas que incentivem as empresas a adotarem essas práticas. No Brasil, embora o caminho ainda seja longo, o cenário é promissor, e as empresas que se adaptarem a essas novas exigências tendem a ter um papel de destaque no mercado global.

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